quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

VOLTANDO A ESCREVER...


Voltando a escrever neste espaço... depois de alguns anos desejando expor meus pensamentos e significações através da letra, mas sem muito sucesso, fui percebendo que a falta de tempo estava me afastando dos meus prazeres, estava sentindo-me roubada de mim. Voltei, por que a escrita é minha forma de ressignificação do dia a dia!
Não sei como vocês funcionam para se esvaziarem, mas eu funciono no verbo e na letra. A análise é onde o verbo se faz linguagem e significante, é lá que me faço desejo e desfaço o gozo sintoma. Faço análise sim, pois é nela que me faço!
Faltava a letra, depois de algumas tempestades a inspiração para inscrita sumiu, algo do cala-se me suprimiu ao silêncio textual. Foi no retorno analítico que o mutismo textual sessou e a escrita ressurgiu, o sujeito sucumbido renasceu!
Cresci em meio a leitura e a escrita de diários e pequenos textos. Lembro-me de na infância não termos recursos para a compra de livros, e aí tudo que eu achava na rua eu pegava para ler, a maioria dos meus livros eram doados ou encontrados em meio ao lixo. O meu pequeno tesouro foi do lixo e foi no lixo que eu encontrei a possibilidade de me fazer escrita. Em cada livro eu fui viajando nas histórias, nos países, nos locais e conhecendo mundos sem sair do lugar. Neste mundo (livros) eu tinha a possibilidade de transmutar-me enquanto ser e ia me inscrevendo enquanto sujeito desejante.
 Nunca tive a pretensão de ser escritora profissional, a escrita me vem de outra ordem, da ordem do rasgar-se para o reconstruir-se, e é nesse caminho que pretendo caminhar e voltar a letra.
Sei que a leitura anda preguiçosa e em desuso, pois as tecnologias vem afastando as pessoas dos livros e dos textos, o que está em ascensão são os vídeos e canais da internet que viralizam. É triste ver as grandes livrarias fechando e perdendo seus espaços! Vejo com isso, o crescimento da ignorância da letra, da história e da escrita, vejo uma geração sem base fundamentada para o diálogo e troca de conhecimento.  Não sou contra a internet ou as tecnologias, pelo contrário, faço uso em demasia das mesmas, mas não as tomo como minhas fontes exclusivas de informação, elas não funcionam como substituição dos livros, são ferramentas que vem para somar no buscar por conhecimento.
Bem, andando na contramão da massa que não ler, eu vou caminhar pela escrita, essa minha escolha, essa minha forma de reescrever-me! Eu continuarei neste caminho descobrindo novas formas de AFETOS no verbo e na letra.
Escolho os livros sempre, gosto do cheiro deles, gosto de grifá-los, gosto de senti-los, gosto de ver os vazios da estante sendo preenchidos por eles. Há tantos livros que perdi, outros que emprestei e não me devolveram, muitos que ainda não os li e não os tenho ainda. Tenho muito a desbravar neste mundo (livros)!
Bem-vinda escrita que ressurgi de forma tímida e sem grandes pretensões...
Quem quiser estar conosco neste espaço será um prazer tê-los aqui!
Cada texto será uma surpresa, não seguiremos um roteiro ou uma temática, será o que vier a cabeça, o que surgir, o que afetar, o que angustiar, o que incomodar! Será denúncia, será amor, será assuntos diversos, será vida, será o dia a dia!

Por Rosemary Silva
Graduada em Psicologia pela Faculdade do Vale do Ipojuca (2010). Especialista em Saúde Pública pela Faculdade Vale do Ipojuca - FAVIP (2012). Atua principalmente como Psicóloga Clínica no viés Psicanalítico. Também possui experiência em Psicologia Social. Atuou como Psicóloga, preceptora e Supervisora Técnica de Estágio em Clínica, na Clínica Escola de Psicologia da UNIFAVIP Wyden, nos anos de 2011 a 2018. Oferece Minicursos e Capacitação Profissional para Psicólogos, como também, é supervisora de casos clínicos em consultório privado. Participou a partir de 2014 até o início de 2016 como Membro da COMINTER (Comissão de Interiorização) e da Comissão Gestora da Subsede Vale do Ipojuca - Caruaru -PE. Conselho Regional de Psicologia 2º Região.
Administradora da página Limiar Psi e Idealizadora do Curso de Capacitação Profissional em Psicologia clínica. @limiarpsi
Esperamos sugestões e críticas!


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Mariana x Paris = A Dor



Ano difícil esse... Vivemos dias maus! No Brasil crise, corrupção, impunidade, retrocesso, leis absurdas tramitando e sendo aprovadas no congresso. Os fundamentalistas tocando o terror na política brasileira.
A população sofre com com a inflação, com o desemprego, com caos na saúde e educação, com o aumento da criminalidade. Os policiais matando sem ver a quem nas comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo, os agentes da justiça abusando da autoridade e cometendo crimes contra a sociedade.
No Sul chuvas fortes enchentes e muitos desabrigados...
Sudeste e Nordeste sofrem com uma das maiores secas, sem chuva, sem água e a população sofre na incerteza do amanhã.
Os Rios morrem aos poucos pela falta de chuva. Vemos o velho Chico agonizando lentamente...
A ambição destrói cidades e mata cidadãos. Mariana -MG e tantos outros municípios destruídos pela lama do TER. A Vale de tanto querer TER se esqueceu de Ser, e causou um dos maiores desastres ao meio ambiente e a população mineira. Morreram seres humanos, animais, matas, rios... Casas e vilarejos interos levados lamas à fora juntos com as histórias e identidade de uma população. E o que temos visto? Lama e mais lama e nada mais!
A chapada Diamantina arde em chamas... O fogo devasta tudo que é vida e verde na sua frente! Um lindo parque Nacional acabando queimado.
No Oriente Médio uma brutal e sangrenta guerra pautada no ódio fundamentalista. Grupos extremistas do terror ditando ordens em nome de um deus e uma ideologia sem qualquer lógica racional.
Em meio ao terror imagens de refugiados da Síria e tantos outros países atacandos pelo Estado Islâmico tentando entrar na Europa e fugir da morte nos abalam! Há tanta desumanidade entre os humanos! Crianças e famílias inteira morrem na travessia do mar, deixam seus lares, sua história, sua comunidade em busca de vida, vida essa que na maioria das vezes as ondas e os ventos jogam ao mar...
Terremotos, tsunamis, doenças... África olhar desviado pelos povos. A cobaia do mundo. O meu coração chora a dor dos africanos!
Europa e EUA as potências do mundo que nada podem diante do terror, são sempre surpreendidos por ataques, aviões derrubados... As ameaças são reais, mas agem como se não fossem com eles, pois afinal, quem ousaria atacar as potências mundiais? Quem?
Até Centenas e milhares de pessoas morrerem de forma sangrenta e brutal a ficha não cai...
O narcisismo e ambição das potências as deixam frágil e sem saída frente a organização de um grupo extremista!
Ódio, Poder, ambição é isso que tem destruído a todos nós humanos... Foi o que destruiu Mariana, foi o que matou os parisienses e é o que tem feito a política brasileira, e o "povo" brasileiro inerte e alienado destruir o Brasil!
Brasileiros aprendam não existe dor maior ou menor, apenas dor! Deixem de comparações imbecis e deixem para serem patriotas na hora de decidirem quem vcs irão votar e eleger para governarem o Brasil. Sejam patriotas sendo menos alienados e passivos, lutando por um país melhor! (Por Rosemary Silva)
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

PRECONCEITO, EXCLUSÃO, SEGREGAÇÃO OU LIBERDADE DE EXPRESSÃO?




Tenho orgulho da minha Profissão e não suporto quando degridem a sua imagem!!! Bem, há algum tempo venho me incomodando com a questão do preconceito. Acho uma hipocrisia e uma mentira deslavada alegarmos que não temos preconceitos, todos nós temos algum tipo de preconceito sim, o que não deveríamos fazer, é deixar que o nossos preconceitos sejam expostos em forma de repulsa, ódio ou exclusão. Afirmamos que sofremos preconceito por sermos gays, religiosos, negros, brancos, pardos... E assim por diante, reclamamos por leis e por justiça. Mas ao mesmo tempo em que recebemos tratamentos preconceituosos também damos os mesmo preconceitos ou talvez piores... Falo agora especificamente para os meus colegas psicólogos (as), eu me assusto quando vejo algumas publicações nas redes sociais por parte de alguns... Meus queridos e queridas, vivemos  em um país onde existe uma diversidade cultural, religiosa, de povos, de raças de gêneros  enorme  de  forma pacificadora e com muita liberdade, e é isto que nós faz uma nação diferentes, e não melhores das demais nações. Então não vamos tornar nossas opiniões pessoais e em nome da tal liberdade de expressão em um comportamento excludente e segregario, fazendo disso uma guerra. Dou um exemplo muito comum, tenho visto Psis publicarem nas redes, piadas carregadas de preconceitos contra pastores, padres, gays e algumas raças... Isto é um horror! Nossa profissão agrega e não segrega, bem pelo menos deveria ser assim. Eu e você temos todo direito de discordamos de pastores, de padres, papa, de gays e... Mas não podemos de forma alguma fazer disso uma guerra pessoal e sair jogando isto no ventilador, espalhando sim muito preconceito e desrespeito contra os outros. Quando publicamos numa rede Social, por exemplo, que odiamos ou não suportamos os Evangélicos, católicos... Estamos dizendo: Não me procure na clínica porque não concordo com sua religião; não me procure nos serviço de referência porque eu tenho pavor da sua fé. Esquecemos que muitas pessoas em sofrimento intenso encontram na maioria das  vezes nessas  “tais” religiões que detonamos nas redes um conforto que nem eu nem você podemos oferecer, por que estamos mais preocupados em criticar e rejeitar o credo deles. Esquecemos que fizemos um juramento e até as palavras desse juramento no dia de nossas formaturas... Liberdade de expressão minha gente, não foi feita para ferirmos e nem para excluirmos ninguém. Me assusto quando vejo um número de pessoas afirmando que não procuram psicólogos porque acreditam que os PSIS são contra religião e especificamente contra evangélicos e católicos. Vejam bem a imagem que estamos construindo de nossa profissão. Somos Psis para estarmos e termos com gregos e troianos, com padres, pastores, negros, brancos, gays, heteros, moços e velhos, ricos e pobres... Dando a estes o mesmo tratamento e os mesmos direitos. Lutamos pelos cumprimentos dos direitos de todos e não contra a ideologia  e a opinião contrária a nossa. Pois todos sem descriminação têm os mesmo direitos perante a justiça, a lei, Deus, a sociedade, a saúde e a morte. Pensem nisso ou não! Vocês é quem sabem que tipo de postura profissional querem ter. Eu só usei aqui a tal liberdade de expressão!


POR Rosemary Silva

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O ESPETÁCULO DOS DESCARTÁVEIS: RELAÇÕES SEM COMPROMISSO E SEM AFETOS.


Muito bem, como o nome do meu blog sugere o Inconsciente a céu aberto não tem a intenção de castrar ou recalcar nenhuma informação... Aqui é um espaço para deixar livres os pensamentos e ideias, mesmo que ainda de forma embaralhada e sem conexão, não há também nenhuma necessidade de cientificar as informações, reflexões e ideias aqui contextualizadas...  Este é simplesmente um espaço de brincar de ser e de escrever!
Bem, o texto de hoje surgiu a partir de uma roda de conversas, de experiências pessoais, de desabafos de amigos (as) e das construções clínicas que me chegam...

E o afeto por onde ele anda? Que pergunta é essa que surge? Eu poderia dar algumas repostas, mais soaria piegas ou romântica demais, embora, eu aqui possa escrever livremente como num processo de associação livre, mas prefiro sugerir para que o leitor responda a si mesmo essa questão.
Relações sérias é um rito em extinção? Homens e mulheres, e por que não homens com homens, e mulheres com mulheres? Afinal, relações são relações... Ninguém fica de fora aqui! Numa relação hetero e homo na maioria das vezes existem dois numa atração irresistível, tanto sexual como psicológica.
O fato é, as relações estão cada vez mais superficiais, vivemos na era do momento e do hoje, não há muito tempo a se perder. E com isso o “FICAR” vem crescendo ainda mais... A cultura do ficar não é de agora, vem de algumas décadas... Mas nunca foi tão vivenciada como nesta última década, com a moda do “Ninguém é Ninguém”. O ficar é conhecido como uma relação provisória, que pode ter a duração de um beijo, de uma noite com sexo ou não, de alguns dias, mas sem telefonemas, sem cobranças, apenas encontros casuais com trocas de carícias e explosões de desejos e muito tesão.  Como posso querer ter apenas uma relação, se em apenas em uma noite de festa, raves e baladas, posso ficar tranquilamente com várias pessoas? As chamadas vantagens do ficar seriam: Conhecer muitas pessoas diferentes, ter e contabilizar o maior número de parceiros (as) (o eu narcísico goza nessa hora) Ego, Ego... Há uma ausência de compromisso, não há sofrimento, não há dor, não há vínculo, não há afeto, não há intimidade emocional e nem um aprofundamento sentimental.
È, agora não há mais dois em uma relação, apenas desejos individuais que só se unem para satisfazer desejos sexuais avassaladores... Isto é ruim? Não, não... Quem sou eu para vir aqui ditar o que é certo ou errado? Mas confesso, não consigo pensar com desdenho e desamor sobre alguém com qual venho a ficar, pois penso sempre, que se não existir uma relação de afeto entre um homem e uma mulher, pelo menos se construa uma relação de amizade. Afinal, eu não estou tratando de um objeto, que em um dia eu beijo e no outro eu descarto. Eu não tenho o poder de impedir o afeto do outro por mim, eu não posso esquecer que dependendo do grau de carência e dificuldades afetivas que o outro tenha, ele pode sim, se apegar a minha pessoa... E se eu não posso arcar com o que desperto, então, para quê provocar aquilo que não darei conta? Pessoas são pessoas, com almas, sentidos, sentimento. Não posso tratar de gente como um copo descartável que passo a noite bebendo minha cerveja gelada e depois amasso e jogo no lixo, e logo pego outro. Mas então, agora terei de dar conta dos sentimentos dos outros? Não, não damos contas nem dos nossos! Não tenho intenção de dizer ou dar receitas para as novas configurações das relações sem compromisso. São apenas embaralhados de informações, uma troca mesmo, pura reflexão! Mas pensemos o seguinte: tem coisa melhor do que um ato de gentileza? De respeito? Do que uma ligação no dia seguinte? Do que ser sincero (a)? Custa dizer: não quero namorar sério, não quero compromisso, quero apenas curtir o hoje com você, e amanhã cada um vai para seu lado. Dessa forma, damos ao outro a oportunidade de escolher se vai querer entrar nessa. Mas ao invés disso, ficamos na pressão inventando mil discursos para conquistar a nossa presa como num processo de caça, e deixamos com que a pessoa acredite que ela é especial, quando na verdade no outro dia iremos nos cruzar e nem se quer trocar um olhar. Não faça promessas que jamais terá a finalidade de cumprir, agir assim chega a ser perverso!
Concordo com a frese “Ninguém é de ninguém”, Concordo que ficar é bom, alias, é ótimo! Concordo que cada um deve buscar a felicidade a sua forma, também acredito ser preciso aproveitar cada instante e momento da vida como se fossem únicos e últimos. Acredito muito na liberdade em todos os sentidos... Acredito que não existe um outro ideal, não há relações ideais, não existe conto de fadas, e a minha e a sua felicidade não deve estar pautada num encontro com o outro ou em uma relação, não adianta buscar a tal completude, por que ela não existe, somos eternos seres de faltas e de incompletudes, insatisfeitos por natureza. Vivemos sempre em busca de algo a mais... É esse tal desejo que nunca se cansa de desejar. Então, relações fundadas em almas Gêmeas e em cara metade, me perdoem se estou sendo objetiva e fria demais, é uma doce ilusão!!! O outro pode nos ajudar a nos sentir mais felizes, mas ele não é o depositário de nossas esperanças. Relações descartáveis talvez seja a saída para uma fuga dessa responsabilidade que nos é imputada de sermos fontes de felicidades eternas de um outro. Afinal de contas o eterno não existe e para sempre, sempre acaba!  Pensando dessa forma, quando a fila andar não surtamos, pois ela precisa andar mesmo, tanto para um, quanto para outro.
Como diz o grande Vinícius de Moraes:
“Que não seja imortal posto que é chama mas que seja infinito enquanto dure...”
Não vamos ser radicais... Nem banalizemos as relações provisórias, e nem transformemos as relações com compromissos em dramas mexicanos. Para tudo é preciso à busca de um equilíbrio, principalmente de um equilíbrio pessoal e emocional!!! Por que no final das contas, ninguém quer ficar só na vida, não estamos preparados para lidar com a solidão e nem com o encontro de nós mesmos!!!

Por Rosemary Silva  25/01/2012
P.S: Me perdoem se aos meus olhos escaparam algum erro de português ou de concordância!!!

Estou aberta a todos os tipos de críticas. Enviem-me suas opiniões! rosemary_alves2007@hotmail.com

terça-feira, 16 de agosto de 2011

CONCEITOS PRÉ-ESTABELECIDOS E JUÍZO MORAL: UM RETROCESSO NO “SER” HUMANO.



Depois de alguns meses sem postar nada por aqui... Volto com uma reflexão e observação a cerca de nossa postura frente ao outro e ao desconhecido. Em minhas visitas e pesquisas a sites e redes sociais da internet, assim também, como em minha prática Psi, tenho observado o quanto às pessoas tentam o tempo todo enquadrar uns aos outros em um padrão. Você pode estar se perguntando ou me perguntando, como assim? O que você estar querendo dizer? Eu estou afirmando, que há uma manifestação aparentemente sutil, mas a priori frequente de manipulação do pensar e do agir do humano. São regras e conceitos individuais que tem a pretensão de estar a serviço do coletivo. São conceito de bem e de mal, de certo e errado.
Quem ousa fugir daquilo que estar inscrito no que se acredita ser “normal” é visto de forma grotesca, e eis que paira a rejeição plena sobre este ser. Ou as pessoas seguem os pré-conceitos estabelecidos ou simplesmente não se enquadram no “ser-humano”.
O desconhecido assusta e amedronta de tal forma, que é preferível fazer juízo de valor a acerca de um comportamento, de uma atitude ou de certa “estranheza”, do que a aceitação. É um absurdo, as pessoas serem julgadas, rejeitadas e massacradas por terem atitudes, pensamentos e comportamentos que apenas são diferentes do que alguns consideram moral, certo, bom...
A sensação é que o tempo todo se vive para o outro. O que o outro vai pensar?  É um aprisionamento total de um viés que não pertence ao todo, mas que outrora, se instala na vida de um todo.
Se fulano tem uma opção sexual diferente da minha ele não serve, se alguém decide que não quer casar, que não quer ter filhos... Ou simplesmente, se alguém decide viver a vida de forma plena e livre, logo vem o tal juízo de valor moral, para execrar o camarada.  O discurso já sai da seguinte forma: “isto é um porralouca”, não quer nada com vida, vagabundo, safado... E por ai vai.
É preciso ter uma visão ampliada, assim como a visão de águia, para além. Uma atenção redobrada. Para não cair nessa armadilha de que o outro tem que agir da forma que eu estabeleço com correto.  Ou de não se deixar cair nessa teia aprisionadora de que eu tenho que ser o que o outro idealizou para minha vida.
Ser humano, é ser sujeito de desejo, é ser livre, é ter autonomia, direito de escolhas, é ser responsável por estas escolhas. É poder errar e acertar, é poder cair e levantar. É seguir o que se julga necessário de forma muito pessoal, individual e singular. Lembrando sempre de que aquilo que me pertence e me cabe, não caberá necessariamente há mais ninguém. Não adianta eu querer escrever a história do desconhecido baseado na minha história e nas experiências que vivenciei, cada qual, que desconstrua e construa sua própria vivencia enquanto humano.
Não estou afirmando aqui, que a moral, princípios e tudo mais, não sejam importantes.   A ordem se faz necessário! Mas a alienação, a coisificação do sujeito em visões, conceitos, preconceitos pessoais não é uma saída norteadora para o humano, ao contrário, pois impor este tipo de postura ao outro, ou até mesmo viver construindo os caminhos baseado na bussola alheia é andar desbussolado, vagando pelo vazio do existir. É retroceder como humano e viver castrado e reprimido.


POR  ROSEMARY SILVA

domingo, 1 de maio de 2011

ESCRAVOS DO CAPITALISMO OU VÍTIMAS DO COSUMISMO EXAGERADO?



O sujeito sai da posição de “consumidor” á objeto consumido.



Diante do mal-estar do capitalismo nos deparamos com sujeitos desbussolados de valores importantes do ser. O ter passou existir como valor de principio fundamental, o incentivo ao consumo é crescente, e a valorização do modismo, do corpo perfeito, dos bens materiais e das relações baseadas em interesses tornaram-se atitudes rotineiras em nossa sociedade.

O externo é algo primordial! O dinheiro compra tudo ou quase tudo, e quanto mais se compra mais se quer, e isso vai se tornando em um caminho que não leva o ser humano a lugar nenhum, somente a um mundo supérfluo. É comum estar diante de pessoas que só se sentem bem e a vontade se estão vestidas com roupas de marcas famosas e caras, pessoas que medem o caráter alheio pelo que vestem ou pelo patrimônio e posição social que possuem. Uma verdadeira cultuação a futilidade. As conversas se resumem as novidades de determinadas marcas e ao consumo exagerado destas. Mesmo quem não possui renda suficiente para comprar uma bolsa “Prada”, por exemplo, se endivida para não pagar feio diante de suas relações sociais.

Foi-se o tempo no qual o ser era um elemento positivo nas relações sociais, onde buscavam-se o caráter, a sensibilidade, a simplicidade, a humildade, o afeto, a amizade sincera... Agora o ser tornou-se sinônimo de algo retrô. A concepção de felicidade está cada vez mais associada ao consumo excessivo para justificar os motivos da existência humana, fato que tem levado a sociedade a adotar padrões de exclusão valorizando o ''ter'' e não o ''ser''.

O jornalista da Rede Globo Arnaldo Jabor disse em uma de suas crônicas '' O dinheiro compra olhos azuis, corpos ideais e as mulheres dos nossos sonhos, mas quando tudo isso falha ele paga a terapia''. É evidente que as coisas têm o valor que atribuímos a elas, contudo somos medidos pelo carro e pelo tênis que possuímos.

Não é errado comprar e usar marcas, não há nenhum conservadorismo no tocante a este assunto, pelo contrário, é muito bom comprar, é muito bom vender e usufruir daquilo que se deseja, ou seja, participar das coisas boas que a vida oferecer. Mas precisamos entender que devemos gastar só o que ganhamos, jamais gastar mais, e valorizar a si mesmo e aos outros pelo que são e não pelo que possuem de bens.

É claro que para se conseguir alguma qualidade de vida, é necessário ter um mínimo de posses, tais como: moradia, alimento, vestuário, educação, saúde, lazer, e alguma garantia de suprimento dessas necessidades básicas. Mas a valorização do ter em excesso e principalmente os apegos aos objetos de posse obstrui o ser e causa infelicidade. O ter pode causar prazer momentâneo, porém, esse prazer logo se transforma em tédio, saturação e embotamento. A ânsia de ter é tão forte que até mesmo nossos sentimentos subjetivos deixam de ser uma ação saudável para se tornarem uma ação de posse.

“No final, o possuído se transforma em possuidor, e o homem, escravo daquilo que possui.”

O consumismo exagerado pode ser um alerta de que algo não está bem. O consumo exagerado, a ganância pelo ter esmaga a estabilidade emocional, gera tensão e prazeres superficiais detonando o ser. Comprar exageradamente pode ser uma forma patológica de aplacar angústias.

Há pessoas que sofrem de compulsão consumista e experimenta uma forte ansiedade que só é aliviada quando fazem compras. Elas não conseguem controlar o desejo intrusivo e repetitivo. O ato é imediatamente seguido por intenso sentimento de alívio. Em situações de impossibilidade de comprar podem aparecer sintomas como irritação, sudorese, ta­quicardia, tremor e sensação de desmaio iminente. Numa atitude compensatória, o mal-estar causado pela culpa leva a pessoa a comprar novamente, dando continuidade ao círculo vicioso, o comportamento compulsivo pode servir como meio de descarga para sanar angústias, raiva, ansiedade, té­dio e pensamentos de desvalorização pessoal. Este é sem dúvida um sinal patológico nomeado como Aneomania.

Saindo um pouco do viés psicopatológico e indo para um olhar psicanalítico vemos que Lacan tratou a questão do consumo, destacando três pontos: o consumo articulado com a ética, em seguida ao campo pulsional, especialmente ao objeto oral e às fantasias de devoração, e, finalmente, ao discurso do capitalista. As instâncias inconscientes dão ar de sua graça das seguintes formas: as caixas registradoras são as cifragens do gozo que proporciona uma satisfação que não pede nada a ninguém, A pulsão busca cada vez algo que responde no Outro, e o útil, o gozo no discurso do capitalista.

“Em 1972, no Seminário 20 – Mais, ainda, Lacan ([1972-1973] 1982) diz ter encontrado no campo jurídico um termo que reúne em uma palavra a diferença entre o útil e o gozo, indicada no Seminário 7 – A ética da psicanálise ([Lacan, 1959-1960] 1988). O usufruto quer dizer que podemos gozar de nossos meios, mas não devemos enxovalhá-los. Pode-se, pois, usufruir de uma herança, com a condição de não usá-la demais. Nesse sentido, em face ao útil, o gozo é aquilo que não serve para nada e o modo de reparti-lo, de distribuí-lo, faz a essência do Direito. Todavia, continua, se há um direito-ao-gozo, ele não é um dever. Nada força ninguém a gozar, senão o supereu. O supereu é o imperativo do gozo – Goza!”

(Márcia Rosa, p.166, 2010).

Fonte: Jacques Lacan e a clínica do consumo- Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.1, p.157 – 171.

Enfim, sem titubear podemos afirmar quer seja inconsciente ou consciente, a valorização do ter e do consumo exagerado precisa de uma conscientização por parte do sujeito, ele precisa se responsabilizar e sair desse lugar de consumir-a-dor para assumir-a-dor e sumir-com-a-dor, e dessa forma, procurar a ajuda de um olhar especializado... Acompanhamento psicológico, psicanalítico ou psiquiátrico.

Quantas pessoas ricas já não tiraram suas vidas porque lhes faltava aquilo que riqueza material nenhuma pode comprar: o amor, o perdão, o respeito, a amizade, o carinho e etc.?

Não podemos deixar de enfatizar que há comportamentos de valorização do ter que são desvios de caráter e que nada tem haver com patologias....

“Ao que me parece, todos os caminhos levam ao divã, qualquer que seja ele.”



Rosemary Silva Alves








quinta-feira, 7 de abril de 2011

O MORRO BOM JESUS E SUAS SIGNIFICAÇÕES!

Há dois anos recebi um dos maiores presentes em minha vida profissional. Ganhei o privilégio de fazer estágio em Psicologia social na comunidade do Morro Bom Jesus, no município de Caruaru-PE. O Morro Bom Jesus, conhecido também como Morro do Socorro, está situado a 630 metros de altura, ponto mais alto da cidade, lugar com uma vista panorâmica maravilhosa. Existe a possibilidade de subir ao monte a pé através de uma escadaria decorada com as estações da Via Sacra, pela rampa de automóvel ou através das diversas escadarias que circundam o morro.
Nunca parei para pensar as significações que o Lugar Morro Bom Jesus representa ou representou em minha vida. Revisitando minhas lembranças consegui resgatar várias histórias... Meu Deus! Surgiram tão boas histórias!
Eu me dei conta que em quase 90% dos lugares dos quais eu morei aqui em Caruaru, me permitiam uma visão muito boa do Morro. Também me dei conta que tive grandes amizades que residiam por lá. Desde que cheguei de São Paulo com meus pais já morei em alguns bairros aqui em Caruaru. Sou paulista de Nascimento e Pernambucana de corpo, alma e coração. Em Caruaru, morei nos Bairros do Salgado, Riachão, COHAB III (Rendeiras), Maurício de Nassau, Divinópolis, e hoje resido no Bairro Bom Vista I. Da porta da minha casa vejo o Morro bem próximo de mim.
Estudei até a 5º série na Escola Dom Vital, e grande parte de meus colegas de sala moravam na antiga rua do lixo (hoje Bairro Centenário) e nas vielas do Morro. Subi as escadarias muitas vezes para brincar com minhas amigas, para estudar e fazer os trabalhos de escola, ou simplesmente para jogar conversa fora. Lembro-me que nesta época circulávamos dentro da comunidade sem receios da criminalidade, época que deixa muitas saudades!
Também vieram em minhas lembranças duas paixões pré-adolescentes vividas aos “pés” do Morro, paixões infantis e inocentes é claro! Subi muitas vezes as escadarias do Morro para pagar promessas que não eram minhas (Risos). Minhas amigas costumavam fazer promessas aos Santos, e me colocavam para pagá-las junto com elas, nessa história perdi as contas de quantas vezes fui ao topo do Monte Bom Jesus. Eu amava contemplar a cidade lá do alto, que visão! Que lugar inspirador!
Enfim, são muitas lembranças surgindo, agora preciso filtrá-las para que este texto não se torne em um livro de recordações...
Passei muitos anos sem visitar ao Morro, fui morar no Rio de Janeiro e quando retornei perdi o contato com minhas amizades que lá residiam. Passaram-se cerca de 17 anos até eu retornar a comunidade, desta vez voltei como uma mulher adulta e profissional, percebi as mudanças reais na comunidade. O descaso das autoridades para com o Morro era e é visível, o preconceito sofrido pelos moradores do bairro ainda é gritante.  Parece que morar no Monte virou sinônimo de ser traficante, assassino, ladrão e marginal? Respondo que não! Nestes dois anos de trabalho no morro tive verdadeiros anjos da Guarda (Nino e Márcio), e nunca presenciei cenas de violência, e nem muito menos fui recebida com desdenho ou desrespeito.
Trabalhei com os Meninos do Consciência Nordestina e do Grupo Astúcia, também visitei famílias, escolas, as escadas, a escadaria, a ladeira, as ladeiras, os becos, as vielas, o centro cultural, as praças e etc...  Foi um sobe e desce daqueles! Digo que todos estes lugares dos quais frequentei, haviam pessoas que demonstraram integridade e imensa humildade. Pessoas que abriram as portas de suas residências sem exigir nada de nós estagiários. Foram receptivos, parceiros.
Vejo por parte de algumas entidades e de pessoas “gabaritadas” certo receio em visitar, e até passar pelo meio do bairro de carro, como se a comunidade estivesse contaminada por alguma moléstia... Quanta ignorância! Um dia alguém me fez a seguinte pergunta? Que Garantias terei que não serei assaltado ao entrar no bairro com você? E eu respondi: “A mesma que você tem ao sair de sua casa todos os dias ao circular pelas ruas do seu Bairro. Você tem alguma?” E ele me disse: Não! Não quero dizer com isto, que o Morro é o Paraíso e que não existem problemas, ao contrário, existem vários!!! Mas não será ignorando-o, fugindo dele, ou fingindo sua inexistência que podemos ajudá-lo a ser o nosso eterno cartão postal. Até por que não temos como escondê-lo debaixo do tapete, pois sua localização não permite, para onde nos direcionarmos ele estará lá, bem no meio da cidade.
O Morro não é o lugar do morrer, ou do eu Morro. É um Lugar de significações, de construções norteadoras, de vida, muita vida, lugar de tecer redes e relações. Lugar de pessoas capazes e carentes de políticas sociais, políticas de segurança que respeitem os cidadãos e os direitos humanos dos que ali residem, políticas de saúde. A priori políticas públicas em todos os sentidos. As crianças, os jovens, os idosos, os homens e as mulheres do Morro, precisam de um olhar que não os descriminem. Precisam que lhes ensinem a pescar e não lhe dêem os peixes.  O povo do Morro precisa de ajuda, e não de esmola ou favor!
Estou me despedido do trabalho no Morro com muita emoção e saudade. Saio para que outros possam ter a oportunidade de estarem contribuindo de alguma forma com um olhar diferenciado. Agradeço a cada um que me acolheu, que me ouviu, e com os quais adquirir bastante conhecimento e aprendizado. Trago comigo uma bagagem vivencial e prática que me proporciona bastante crescimento e enorme experiência para o resto de minha vida.
Obrigado BOM JESUS pelo Morro que me deste!

Rosemary Silva Alves